Historial

            ·   Localização geográfica:
   O Castelo de São Jorge (ou dos Mouros) ergue-se na mais alta   colina da cidade de Lisboa, na freguesia do Castelo, justificando-se pelas naturais condições de defesa e de vigilância, sobre o Tejo e as terras em redor, extendendo-se numa área com cerca de 6000 m².


·    Origem:
        Num mundo conturbado de conflitos entre árabes, berberes e cristãos, assolado ainda  por expedições normandas que assaltavam as cidades costeiras, as defesas das cidades reforçavam-se através de fortificações (muralhas, castelos, atalaias, etc). Por isso construíram o Castelo. Foi construído pelos mouros/árabes no séc XI e conquistado por D. Afonso Henriques em 1147, com a conquista de Lisboa aos Mouros. Contudo, o novo poder instala-se no Castelo de S. Jorge.  Após a guerra com Castela, ficou sob protecção de São Jorge (santo padroeiro das cruzadas), nome pelo qual é conhecido hoje.


·    Antigas funcionalidades:
    Com Lisboa como capital do reino, instalou-se lá o Paço Real e sofreu remodelações sucessivas para tornar-se a residência dos reis portuguese, e  também o Paço dos Bispos. Nas primeiras décadas do séc XX foram-se adaptando os espaços ao “sabor” das necessidades da vida militar e política, permitindo defender a alcáçova;
  As personagens mudam mas permanecem as funções e os residentes adoptam os espaços funcionais dos antecessores. Ao Paço Real da alcáçova (com as suas inúmeras dependências), ao castelo (agora devotado a S. Jorge), servindo de “palco” para:
- a aclamação do rei D. Duarte em 1433;
- o sarau em honra do casamento de D. Leonor com o Imperador da Alemanha Frederico III em 1451;
- a aclamação de João II em 1481;
- a reunião de Cortes de 1498;
- a recepção do rei D. Manuel a Vasco da Gama regressado da Índia em 1499;
- o Natal de D. Manuel I em 1501;
- o nascimento em 1502 do príncipe D. João, futuro rei D. João III;
- a apresentação da primeira peça de Gil Vicente em 1502 “O Auto do Vaqueiro” para comemorar o nascimento de D. João (1ª peça de teatro portuguesa);
- a recepção ao Cardeal Legado do Papa Pio V no Paço Real da Alcáçova, por D. Sebastião em 1571.


·    O Terramoto (1755) e a Casa Pia (1780 a 1807).
    No séc XVIII e XIX o Castelo de S. Jorge recebe as alterações mais profundas devido ao terramoto de 1755 (as muralhas, o castelo, o antigo Paço Real, a maior parte dos palácios, ermidas, igrejas e outras construções existentes ficaram em ruínas).
   Mais tarde, feitos trabalhos de restauração, instalou-se a casa de correcção da Casa Pia, que lá permaneceu até ao séc XIX. No dia 03/07/ 1780, no reinado de D. Maria I, no contexto dos problemas sociais decorrentes do terramoto de 1755, foi fundada a Casa Pia de Lisboa por iniciativa de Diogo Manique.
   Provisoriamente instalada no Castelo de S. Jorge recebe crianças, órfãs e abandonadas, além de mendigos e prostitutas. Foram aplicados os mais modernos e audaciosos métodos pedagógicos que transformaram a Casa Pia numa escola precursora do ensino técnico-profissional, do ensino artístico e do ensino musical no nosso país. Em resultado das invasões francesas e da ocupação de Lisboa pelos exércitos napoleónicos, Junot instala no Castelo as suas tropas. Consequentemente, crianças da Casa Pia foram desalojadas e distribuídas por asilos, paróquias e conventos. Outras ficaram simplesmente na rua. Depois, a casa pia passou para o Desterro, devido às consequências de Junot.


·    Outras acções judiciais e militares…
- As elites políticas, militares e administrativas, que comandavam os destinos da cidade, viviam na zona mais inacessível da medina, a alcáçova (a cidadela fortificada onde se localizava o palácio do alcaide, o castelo e as zonas residenciais para as elites do governo);
- Ataques dos castelhanos em 1373, ano em de D. Fernando mandou construir a muralha;
- Ganhou novamente importância militar, em 1580, devido às influências filipinas, servindo de albergue e prisão;
- A 02/12/1640, quando o Castelo é entregue a D. Álvaro de Abranches, a guarnição do castelo contava com 500 soldados espanhóis;
- A calçada lisboeta, um dos símbolos da cidade, foi perdendo, ao longo dos anos, alguns dos seus principais exemplos. O Rossio foi um deles. No séc XIX, os presos do Castelo de S. Jorge aprenderam a calcetar fazendo elaborados desenhos, de modo a contrastar o calcário com o granito.



·    Obras e outras remodelações:
- Perdeu as marcas islâmicas: a mesquita que ali existia foi então transformada na Igreja de Santa Cruz e o palácio do alcaide da cidade passou a alojamento real, de bispos e nobres (ocupação de cristãos);
- D. Sebastião (1557-1578) mandou ainda proceder a obras no antigo Paço Real;
- Os 70 anos de integração do reino de Portugal na coroa de Espanha, entre 1580 e 1640, introduziram alterações significativas no Castelo que reassumiu um papel de comando político e defesa. Parte da área ocupada pelo Paço Real da alcáçova foi transformada em quartel para aí instalar o Governador e a sua guarnição militar, sofrendo obras de adaptação e modernização defensiva;
- No séc XIII, D. Afonso III fez obras de reparação no palácio do governador;
- O Castelo e as muralhas ou o Paço dos Bispos recebem obras nos reinados de D. Afonso IV (1325-1357), de D. Fernando (1373-1375) quando promove a campanha da nova muralha da cidade que ficou com o seu nome (muralha Fernandina) e D. João I (1385-1433) que mandou tapar o fosso e retirar as portas que separavam o castelo da cidade. Os Bispos foram sucessivamente introduzindo adaptações nos seus paços;
- No séc. XIV D. Dinis transformou a alcáçova mourisca em Paço Real da Alcáçova;
- Foi então instalada, na Torre de Ulisses, o Periscópio e o tombo do reino, onde se guardavam os documentos antigos do Arquivo Real. Ficou conhecida como Torre do Tombo, e nela trabalharam dois dos mais importantes cronistas da História de Portugal (Fernão Lopes e Damião de Góis).
- Em 1511 D. Manuel I mandou construir um palácio na praça do comércio e a família real saiu do castelo (e causou degradação do castelo porque esteve sem manutenção);
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No século XVII, foi construída, numa das torres, um Observatório Geodésico, passando esta a chamar-se Torre do Observatório;
- Em 1930, Salazar ordenou a reconstrução das muralhas medievais (danificadas pelo terramoto);



·    Cultura:
- Em 1910, antes da implantação da República, D. Manuel II, último Rei de Portugal, manda publicar o decreto de classificação do património nacional com estatuto de Monumento Nacional, em cuja lista se incluía o Castelo de S. Jorge. Hoje o apoio do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico ajuda a preservar o monumento;
- De 1938 a 1940, foi feita uma reestruturação pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e, nove anos mais tarde, passou a ser utilizado para comemorar o Centenário da Fundação da Nacionalidade e da Restauração da Independência;
- Augusto Vieira da Silva em 1898 publicou a primeira monografia (trabalho de investigação) sobre o Castelo;
- Foram também avultadas as obras do General Eusébio Furtado, governador da praça militar do Castelo, realizadas de 1841 a 1846.

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        * Naquele contexto de instabilidade de meados do século XI a zona Norte da alcáçova foi alvo de uma reorganização urbanística que levou à construção do castelo e das casas e arruamentos da Praça Nova, que se mantiveram preservadas em parte e hoje se encontram musealizadas.

2 comentários:

  1. Atenção à originalidade da informação. É critério relevante. Prof AT

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  2. Podes aprofundar a informação que aqui tens resumida e analisar aspectos mais específicos: a muralha fernandina, as acomodações reais, a Casa Pia, os efeitos do Terramoto, as guarnições militares que aqui estiveram acasteladas, os reis que aqui permaneceram, etc.

    Prof

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